segunda-feira, 30 de outubro de 2017

«o menino Carlinhos», como é mimado


         1967
15 de Junho
Quinta-feira, 21h30 


Estou deitado sobre a minha cama de primeiro andar. Parece-me que começa esta noite o tempo das chuvas. O céu é frequentemente iluminado por fortes relâmpagos acompanhados de violentos trovões e chove torrencialmente como há muito não via chover.
Era para ir à cidade com um mecânico arranjar, ao serão, numa oficina, o citroen de dois cavalos do furriel Santos e de um seu amigo que trabalha no Grande Hotel e que ambos me incumbiram desta tarefa. Mas, porque começou a chover, «água a cântaros», a trovejar e a relampejar que mete medo, desistimos de sair.
Porém, o mecânico também já não tinha grande vontade. Ao-fim e ao-cabo, pensei que até foi bom. Assim, deito-me mais cedo, porque a noite passada trabalhei bastante.

Nesta noite, fui servir numa festa dos senhores. E, senhoras, evidentemente. Não tenho muito jeito para estas coisas mas o dinheiro falou mais alto e obrigou-me a isto.
Na Associação Comercial houve um bufete, organizado pelo Grande Hotel, ofertado pelos TAP, (Transportes Aéreos Portugueses), aos seus clientes. O meu amigo Carlos e colega de serviço, «o menino Carlinhos» como é mimado na secção, à noite e aos fins-de-semana trabalha de jaleca branca agaloada neste hotel a servir às mesas, convidou-me para eu ir servir bebidas ganhando 100 escudos mais a ceia.
Este trabalho durou das 20 horas à meia-noite. Nada mal. É pena não haver mais festas destas. Digo isto, somente, a pensar nos 100 escudos¹.
Foi, também, outro camarada da secção. Tanto ele como eu, não estávamos habituados e quando chegamos ao fim estávamos estoirados. Já pouco nos apetecia cear. Bebemos uns uísques e regressamos de táxi ao quartel, encantados da vida, já bem a trocar o passo.


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¹ [Hoje, seriam 50 cêntimos.]

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