1968
23 de Outubro.
Quarta-feira, 13h00
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Ontem fui ver
novamente o filme «Doutor Jivago».
Quis perceber melhor a história do bolchevismo e os seus horrores e, em si, a
epopeia de um grande amor extraída de uma grande obra de ficção, de Boris Pasternak, com factos verdadeiros
que todos conhecemos da história.
A minha nota de embarque já deu entrada na primeira
repartição. Aguardo agora, com grande ansiedade, o meu nome nas relações de
embarque.
As vezes penso estar a viver um sonho mas se Deus quiser de
hoje a oito dias já estarei no início do caminho para a tão almejada liberdade. Esta liberdade que anseio há mais de cinquenta meses. Mas será de
facto liberdade sair desta vida sempre cheia de privações, de humilhações, de
inimizades, de espíritos contraídos e oprimidos! Depois de todo este tempo, a
vida não será igual lá fora! Se for igual, ou de outro modo, é preciso é que
continue sem esta subserviência a mentalidades retrógradas dentro destas
carcaças, carcomidas pelo recalcamento, de espírito tacanho movidas pelos
interesses da guerra.
Onde estará a liberdade tão desejada! Onde estará!
Este meu viver aqui, não sendo uma prisão, no mínimo é um
degredo a que fui condenado durante 24 meses ao qual, também, todos os outros
foram condenados, de uma forma ou de outra.
O que é preciso é viver. Bem ou mal. No céu ou no infern0.
É preciso é estar vivo. Acordar com os dedos dos pés a mexer. Tenho de me
capacitar. Disto eu tenho a certeza, embora sinta relutância em convencer-me.
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