sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A insipidez das suas palavras escritas


        1968
        26 de Agosto
        Segunda-feira, 13h00



   Café Tamar. 24 horas depois do último capítulo, começo a escrever este, no mesmo local.
     Pouco tempo depois de ter escrito o último capítulo, recebo uma carta da minha namorada que em vez de me alegrar me deixou profundamente triste. E para mais no dia dos meus anos que esperava um pouco mais de conforto e compreensão. Senti-me completamente decepcionado e como à mesa estava acompanhado, tive de me conter para não deixar transparecer o meu desânimo, por causa da chacota dos meus camaradas.
      A insipidez das suas palavras escritas deixa antever a puerilidade de uma incompreensível criança  de 20 anos. Depois de passadas estas horas e estar com a cabeça mais fria penso que a culpa talvez seja minha.
      Continuando com a lamúria o dia de ontem foi estúpido, aborrecido e deveras triste. Nem uma palavra escrita de conforto vinda de tão longe para me aliviar o espírito destes maus pensamentos.Foi um  dia tão triste e aborrecido que nem sequer me vesti à civil. Passei a tarde toda na secção a desenhar.
     O amigo e camarada ‘Manel’ convidou-me para ir até à sua unidade, mas não me apeteceu,  preferi ficar sozinho na secção mergulhado na minha angústia tendo transportado um pouco dela para o desenho que estou a terminar com os últimos retoques.
      A imagem é de dois noivos junto ao altar. A fotografia, por onde fiz a reprodução a pastel, mostrava as fisionomias sorridentes e felizes, ausentes de um futuro de incertezas e enganos, mas a minha alma estava triste e deprimida e o retrato ficou com um pouco da alma desse momento.

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