àquela velhinha que, muito esforçada, até avançada idade,
desde o sol nascer até ao sol-pôr, à torreira do calor,
à chuva, ao vento, ao frio; curvada pelo peso da vida e do «foicinho»,
-comendo o pão que o diabo amassou com o
seu sangue, suor e lágrimas-
roçou, no monte, carradas de mato,
para criar os seus netinhos com o pão
abençoado de cada dia.
a minha Avó
muito suor e lágrimas deixei naqueles montes para vos criar:
muito suor e lágrimas deixei naqueles montes para vos criar:
dizia-nos ela
apesar de tudo, foi ele que, com o seu parco salário semanal,
sustentou os filhos, − a Mãe e a mulher − os educou e lhes incutiu
o sentido da responsabilidade, do respeito,
da moral e da verdade, do trabalho.
À refeição eram seis pratos na acanhada mesa e a comida nunca faltou:
se não bastava, era da sua marmita do almoço do dia seguinte que se dividia.
À refeição eram seis pratos na acanhada mesa e a comida nunca faltou:
se não bastava, era da sua marmita do almoço do dia seguinte que se dividia.
O seu carácter, abrupto e inconstante,
ter-se-á moldado à vida escabrosa do seu tempo.
Também ele, muitas vezes,
terá comido o pão que o diabo amassou.
o meu Pai
«Da corrente do
rio que tudo arrasta se diz que é violenta,
mas ninguém chama
de violentas às margens que o comprimem».
Brecht
tal como eu, e toda a mocidade de então na flor da sua juventude,
cumpriram o serviço militar;
com a sorte, porém, de não terem ido
− «malhar
com os costados» −
à guerra das Colónias.
os meus irmãos
o João Pedro e a Rosinha que são o meu filho e a minha mulher.
A Rosa foi minha madrinha de guerra
e nunca me perdoou
ter regressado da Guiné sem uma simples lembrança.
Que sovina, imperdoável a minha falta,
reconheço.
Ofereço-lhe agora
estas memórias com muito amor e carinho.
Dizia-lhe um namorado desse tempo:
não sejas madrinha de guerra
que acaba sempre em namoro com pedido de casamento
a mim por existir, simplesmente.
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