20 de Maio
Sábado, 21h30
Esta Sexta-feira, não recebi correspondência, como
esperava, principalmente do meu amigo com o recorte do jornal com o anúncio do
concurso de desenho do Diário Popular. Também esperava correspondência da minha
vizinha, respondendo ao pedido que lhe fiz para ser minha madrinha de guerra.
Na Quarta-feira, recebi um aerograma da minha namorada, a
fazer as pazes com o nosso amor. Não sei porquê, sinto que é ela mais o meu amor que eu o amor dela.
Talvez ciúmes… não sei!
Ultimamente, tenho andado um pouco doente. Sinto esta dor
incomodativa do lado esquerdo do tórax que me perturba bastante. Já na
Metrópole a sentia, mas nunca lhe dei grande importância. Aqui, com este clima
e esta pressão, tem-se acentuado mais. Já por três vezes fui ao médico: a primeira vez e a segunda receitou-me
injecções; a terceira, quando lhe disse que fumava uma média de quarenta a
cinquenta cigarros por dia, disse-me para fumar menos ou mesmo deixar de fumar.
Disse-me, ainda mais, para não beber café, deduzindo que esta dor no peito terá
origem no meu constante estado de ansiedade e que este era agravado pelo
excesso de tabaco, álcool e café.
Reconheço que estes excessos à mistura com este clima
doentio são, ainda, duplamente agravados e poderão ser a causa desta dor.
Estou a lembrar-me, há uns dias atrás, da resposta que um
camarada, alentejano, deu ao médico quando este lhe disse para não fumar tanto
que, assim, prejudicava a saúde ao mesmo tempo que ia colecionando pregos para
o caixão, ao que ele respondeu:
«Ó, senhor Doutor! Já agora! Não fumo, não
bebo, não f…!»
«Porque estou eu pr’aqui marfado se daqui a
três dias vou ‘bater’ com os ‘tomates’ no ‘mato’ e calhando levo um tiro nos cornos que me f...!»
Ultimamente também me tem acontecido um facto que, não
sendo estranho, me preocupa. Há noites que, ao sonhar com raparigas e algumas
nem sequer conheço, me masturbo. Ainda esta tarde, quando dormia a sesta,
acordei com esta sensação que me deixou indisposto.
São 22 horas, no
momento que estou a terminar este capítulo. Estou no café Avenida com um meu camarada e amigo e não fomos ao cinema por
não termos dinheiro.
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