25 de Maio
Quinta-feira,
É dia de Corpo de Deus. Estou no café Avenida e enquanto continuo a
escrever este diário, (que não é tão diário), o meu camarada e amigo Silvestre foi
comprar bilhetes para irmos ao cinema ver «55
dias em Pequim», de Nicholas Ray;
com Charlton Heston, Ava Gardner, David
Niven….
Está uma grande ventania, que leva tudo à frente, e
bastante fresco. Tudo indica que vai chover.
O meu chefe de serviço tem andado, ultimamente, muito
mal-humorado. Por qualquer insignificância, «pega
por tudo e por nada», com qualquer um
de nós. Tanto faz ser soldado como sargento. Está a revelar-se uma pessoa sem
personalidade alguma. A boa impressão que eu tinha dele desapareceu e, também,
já não estou muito bem na sua boa graça. Talvez eu, também, faça um pouco por isso
não fazendo, algumas vezes, as coisas como ele quer.
Ontem, eram sete horas e 30 minutos, estava eu e o meu
camarada e colega de serviço, Araújo, sentados numa pequena esplanada do café Pireza, que fica defronte da porta
de entrada da secção, quando ele passou transportado por uma viatura. Abriu a
secção e foi trabalhar. Então, quando chegaram as 0it0 horas, entramos na
secção e os seus bons dias, depois de nós o saudarmos, foram: «Porque é que
vós, em vez de estardes ali repimpados no café, não estais na secção a
trabalhar? Se saís mais cedo à hora da saída, deveis compensar esse tempo!»
O recado devia de ser para mim, por saber que eu tenho uma
chave da secção. Calámo-nos e começamos a trabalhar mas, falando para os meus
botões, se saímos mais cedo é para arranjarmos boleia e chegarmos ao quartel a
horas das formaturas do almoço e do jantar.
Entendo que na tropa à que amochar e não resmungar
mas, como chefe da secção, bem que poderia requisitar uma viatura para nos
transportar no ir e vir destas andanças, como fazem as outras secções
exteriores ao quartel.
É uma maçada para nós, debaixo de um calor abrasante e
desgastante, ter que apanhar boleia, quatro ou seis vezes por dia, para nos
deslocarmos da cidade para o quartel e deste para a cidade e sempre com a
preocupação de cumprir os horários.
Pequena esplanada do café Pireza
– «Sala de espera da Secção»
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O meu amigo e camarada Silvestre já regressou e não
arranjou bilhetes. Este cinema é a única sala de espetáculos da cidade e
qualquer filme, mesmo com muita rodagem, ou que não preste, é sempre uma
estreia. A tropa que vagueia pela cidade, sem nada que fazer, não havendo outro
tipo de diversão, vai ver o mesmo filme duas e três vezes: uns, para passar o
tempo; outros, porque é novidade, para eles.
UDIB, União Desportiva Internacional de Bissau, é o nome
desta casa de espetáculos e pertence a um clube de futebol desta cidade com o
mesmo nome.
O meu amigo Mário ainda não me respondeu a dizer-me alguma
coisa sobre o concurso de desenho.
O meu camarada
fez-me gastar tinta e pôs-me um pouco triste. Afinal sempre arranjou bilhetes
para o cinema.
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