quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O ter sempre que fazer faz-me bem


 
         1967
 06 de Maio
 Sábado, 22h00



 
 

   Estou no café Avenida. Estou de serviço à Ronda Ambulante e como precisava de escrever uma carta amorosa a uma amiga, que é minha vizinha, pedi a um camarada e amigo para me confirmar a ronda e como estou no último turno creio não haver problema.

Ultimamente, tenho-me ausentado um pouco deste diário. Já o disse antes não somente por ter pouco que escrever mas, também, por ter o tempo ocupado, ora com a leitura, ora com os desenhos.
Agora, ando a fazer um estudo para um desenho alusivo ao «cancioneiro popular» para um concurso no Diário Popular, por intermédio de um amigo de Lisboa que fez a minha inscrição neste jornal.
Não sei exatamente como representá-lo. Haverá muitas formas. Resta-me imaginar uma forma mais original e não sei se esta que estou a trabalhar o será.

Tudo tem corrido normalmente bem. O ter sempre que fazer faz-me bem. Traz-me preocupado com o que faço e não penso tanto no isolamento.
Na secção, quando não tenho trabalho à máquina de escrever, arranjo sempre qualquer coisa que me absorva o tempo e os meus pensamentos de angústia e ansiedade.
        Ultimamente tenho-me dedicado à encadernação dos cadernos dos registos de recrutamento da secção e, embora nunca tivesse feito este trabalho, tenho-me ajeitado bem. O capitão, meu chefe de serviço, gosta muito deste meu trabalho, mas já notei que sabe agradecer pouco. Quando lhe pedi para se responsabilizar pelo meu desarranchar do rancho geral hesitou não querendo responsabilidades. Por fim, lá o convenci e assinou a proposta.
Ainda não entreguei a proposta na minha Companhia CCS, (Companhia de Comando e Serviços do Quartel General). Sem a intervenção de um superior, que poderia ser o meu chefe, demora muito tempo a ir a despacho.
        Já vi que o meu chefe se está marimbando e eu já não tenho tanto gosto de fazer o que não me compete. Por vezes, chego a detestá-lo, por ser tão mesquinho em tudo. Qualquer dia destes, vou pedir-lhe para autorizar a minha licença, para a ir gozar à Metrópole utilizando as viagens nos barcos fretados pelo exército.
 
 
 

Estudo para o concurso do "cancioneiro popular"
«a dança das cantarinhas»


        Está a chegar o tempo das chuvas e as temperaturas tornam-se mais frescas. Já a noite passada choveu.
       Tenho recebido, sempre que há avião, correspondência e, uma das vezes, até bati o recorde com sete aerogramas um dos quais do meu irmão do meio a dizer-me que já está na tropa; assentou praça no quartel do Campo de Tiro da Serra da Carregueira em Belas. 

 

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