sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Alguns condutores malandros e já «velhinhos»

 
        1968
01 de Julho
Segunda-feira, 12h00


    Secção. Hoje, na parte da manhã, foi o recebimento do pré das praças metropolitanas. Cheguei à secção por volta das 11 horas e, qual foi o meu espanto, logo que entrei. Um novo chefe do serviço. Não sei ainda como se chama. Agora a secção tem como chefes um major e dois capitães.
        O capitão J. de Carvalho e o C. Álvares têm sido uns gajos porreiros e, assim, têm conseguido a motivação da malta, que aqui trabalha, para as alterações que introduziram e que, em muitos aspetos, melhoraram as condições no sistema de trabalho.

        Amanhã vou entrar de licença. São trinta dias que não trabalharei na secção, apenas cá virei fazer as minhas coisas, depois das horas do expediente.
        Não é que tenha necessidade de férias, apenas, somente, por ter direito a elas. O trabalho não mata e o que é que eu vou descansar aqui. Apenas vou dormir até mais tarde e passear o traseiro pelas cadeiras das esplanadas.

        Já começou a época das chuvas e já apanhei duas grandes molhas: uma quando me deslocava para o quartel; a outra, ontem, quando entrei de serviço de patrulha.
        No ar, trovejava e relampejava como nunca tinha visto antes. Mete respeito mas, ao mesmo tempo, e fora isto, é um espetáculo bonito de se ver.
        Já tem acontecido, mais que uma vez, um fenómeno muito interessante. Praticamente as viaturas militares andam todas sem capota e acontece que, quando apanhamos transporte, nesse dado momento não chove e até chega a estar sol. Percorridos umas centenas de metros o condutor pára, porque imediatamente à frente, como se houvesse uma espessa cortina, chove torrencialmente. Passados poucos minutos, deixa de chover e prosseguimos. Alguns condutores malandros e já «velhinhos» nestas aventuras, e como a «velhice» na tropa é um posto, não param só para ouvirem a malta a praguejar.
        Mais curioso, ainda, é quando caminhamos a pé e se desenvolve uma ventania a nossa volta que arrasta tudo, olhamos para cima, avistamos uma mancha escura que ameaça descarregar um pé-d’água sobre as nossas cabeças, e, então, é ver a malta a dar à sola até encontrar o abrigo mais próximo. Se ainda tivermos tempo e as gâmbias em boa forma, corremos até deixarmos de estar sob o alcance da dita. Aí, podemos desfrutar do prazer de vermos ela cair a cântaros, a poucos palmos do nosso nariz, sem nos molharmos, como se uma cortina de vidro estivesse de entremeio.

        Ontem recebi do meu irmão José Maria uma má notícia. A nossa Mãe está na terra, na casa da nora, e partiu uma clavícula. A minha namorada já me tinha dado esta triste notícia.

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